IA, meio ambiente e escolhas humanas: o que a psicologia social tem a ver com isso?

Que a inteligência artificial (IA) já faz parte da nossa vida cotidiana, ninguém mais duvida. Ela está presente na logística de distribuição de alimentos, nos sistemas bancários, nas compras online, na educação e até mesmo nos diagnósticos médicos. Mas o que muitas vezes escapa à nossa percepção é o impacto ambiental que essa tecnologia, que nos facilita tanto a vida, vem provocando.

Como pesquisadora dos impactos sociais, não posso deixar de olhar para o lado invisível da IA: seu consumo intensivo de recursos naturais, como água, eletricidade e metais raros. Os próprios sistemas de IA já são capazes de mapear os danos ambientais que causam. E o panorama é preocupante.

O custo invisível da conveniência digital.

O uso doméstico da tecnologia parece inofensivo à primeira vista, carregar o celular, manter o Wi-Fi ligado, usar assistentes virtuais. Mas por trás dessas facilidades há uma estrutura gigantesca operando, em tempo real, para manter os dados funcionando.

Modelos como os de linguagem (os famosos LLMs) precisam ser treinados com bilhões de parâmetros, exigindo milhares de unidades de processamento gráfico (GPUs), máquinas de altíssimo desempenho que operam em centros de dados espalhados pelo mundo. Só esse treinamento pode consumir energia equivalente ao gasto de centenas de casas durante meses. E o aperfeiçoamento desses sistemas é contínuo, crescendo a cada nova demanda.

Um exercício de imaginação:

Vamos fazer um exercício rápido? Imagine que você, seus vizinhos, toda a sua cidade, ou até o país inteiro, decide fazer uma compra online, agora. Todos, ao mesmo tempo.

Uma compra simples pode levar até 5 minutos: escolher um produto, comparar preços, buscar avaliações, colocar no carrinho e finalizar. Agora multiplique esse tempo por milhões de usuários simultâneos. Enquanto você navega, do outro lado estão servidores sendo ativados, algoritmos rodando, estoques sendo atualizados e dados sendo sincronizados. Tudo isso gera consumo de energia em larga escala.

Consciência como chave para escolhas sustentáveis.

Esse simples experimento mental nos mostra como nossas decisões individuais, quando multiplicadas, ganham uma dimensão coletiva com impactos reais. E é aí que entra a psicologia social: para nos lembrar que somos parte de uma rede interconectada de hábitos, escolhas e consequências.

Precisamos cultivar a consciência crítica sobre as tecnologias que usamos. Não se trata de rejeitá-las, mas de utilizá-las com responsabilidade, reconhecendo que por trás de cada clique existe uma estrutura que também consome, e muitas vezes degrada o planeta.

A IA não é apenas um tema tecnológico. Ela é, antes de tudo, um tema humano. E como todo tema humano, merece ser pensado com profundidade, ética e sensibilidade ao nosso entorno.

Christina Guedes

Psicóloga e Consultora em Segurança Psicológica Corporativa Corporativa