Entre algoritmos e sonhos: a Inteligência Artificial e o retorno ao que é humano
- Christina Guedes
- 10 de nov. de 2024
- 2 min de leitura
Na era da Inteligência Artificial, em que algoritmos não apenas preveem nossos gostos e horários, mas também interpretam nossas expressões e gestos, algo curioso acontece: quanto mais somos analisados e categorizados, mais nos questionamos sobre quem realmente somos por trás das telas. A tecnologia observa e tenta reproduzir nossa essência, mas, ao mesmo tempo, nos provoca a explorar uma pergunta essencial: “Sou apenas o que mostro aqui?”
Podemos imaginar a mente como um vasto oceano, cheio de profundezas desconhecidas, onde correntes e criaturas emergem de formas inesperadas. A IA, em seu avanço, tenta mapear esse mar, transformando nossas emoções em dados e padrões numéricos. No entanto, assim como o oceano não pode ser compreendido por uma única imagem, a mente humana jamais será plenamente traduzida por algoritmos e estatísticas. É nesse contexto que a psicanálise reafirma sua importância – como uma travessia íntima para além das ondas superficiais, onde exploramos o que somos, sem filtros, sem likes e sem a necessidade de uma tradução tecnológica.
A evolução da IA nos conduz a um paradoxo fascinante: enquanto as máquinas buscam a precisão, a natureza humana permanece intrinsecamente ambígua. A psicanálise lembra-nos de que não somos apenas os nossos perfis digitais ou as previsões dos algoritmos. Somos a soma de memórias, desejos e sonhos que nenhum sistema é capaz de rastrear.
No mundo onde o selfie toma o lugar do self, a psicanálise convida-nos a uma pausa e propõe uma jornada mais autêntica. E se, em vez de buscarmos validação instantânea, explorássemos aquelas “boas lembranças” que realmente nos definem? Em meio ao avanço implacável da IA, essa busca é hoje mais audaciosa e essencial do que nunca – porque, enquanto a tecnologia nos oferece respostas imediatas, a psicanálise nos devolve o poder das perguntas.
Com a aceleração digital, ganhamos velocidade em informação e atualização da IA, mas corremos o risco de perder a dimensão da introspecção, aquela que só pode ser acessada através de um mergulho corajoso em nós mesmos.
Christina Guedes
Psicanalista
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