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Inteligência Artificial e Ética em Saúde Mental: um convite à responsabilidade coletiva.

  • Foto do escritor: Christina Guedes
    Christina Guedes
  • 7 de out.
  • 2 min de leitura

Nos últimos anos, Yuval Noah Harari tem chamado atenção para o fato de que a Inteligência Artificial deixou de ser apenas uma ferramenta criada pelo ser humano e passou a atuar como um agente capaz de aprender, se modificar e influenciar decisões sem intervenção direta. Isso significa que, as competências desenvolvidas pela IA, está cada dia mais aprimorada, seja em observar comportamentos, reproduz padrões e se molda ao ambiente em que é desenvolvida.


Essa perspectiva é profundamente relevante para o campo da saúde mental. Assim como um pessoa aprende e internaliza valores, normas e afetos a partir de seu meio, as tecnologias emergentes também refletem aquilo que lhes oferecemos, nossos modelos de convivência, nossas falhas éticas e nossas virtudes. Se não formos capazes de construir um ambiente humano mais confiável, colaborativo e ético, a IA carregará, inevitavelmente, as marcas de nossas distorções.


No contexto clínico e institucional, essa reflexão ganha força. As tecnologias já estão presentes no apoio a decisões médicas, no gerenciamento de dados em diagnósticos clínicos e até em ferramentas terapêuticas experimentais. É preciso reconhecer que, sem diretrizes éticas sólidas, corremos o risco de transformar o cuidado em um processo mecanizado, em que a singularidade do sujeito se perde.

 

A inteligência artificial nos convida a repensar o próprio conceito de “inteligência” e de “cuidado”.                     Christina Guedes _ Psicanalista
A inteligência artificial nos convida a repensar o próprio conceito de “inteligência” e de “cuidado”. Christina Guedes _ Psicanalista

Por isso, pensar a IA sob a lente da saúde mental significa:


  • Reafirmar a centralidade do humano: nenhuma máquina substitui a escuta clínica, a empatia e a construção do vínculo terapêutico;

  • Garantir confidencialidade e privacidade: a proteção dos dados sensíveis de pacientes não é apenas uma obrigação legal, mas um imperativo ético;

  • Evitar vieses e desumanização: algoritmos treinados com dados enviesados podem reforçar preconceitos, desigualdades e práticas discriminatórias;

  • Cultivar a cooperação interdisciplinar: desenvolvedores, gestores e profissionais de saúde mental precisam dialogar para criar sistemas alinhados aos valores do cuidado.

  

A tecnologia vem amplificando comportamentos humanos, as interações online ditam tendências, cada dia mais usuários e ampliando o tempo de uso da tecnologia, seja com aplicativo diferente ou até mesmo maios tempo de uso. Na saúde mental, isso significa que nossas práticas éticas e institucionais serão refletidas nos recursos digitais que escolhemos implementar. Antes de confiarmos processos terapêuticos a sistemas automatizados, precisamos investir em formação, supervisão e debates ético-políticos que fortaleçam uma cultura de respeito, dignidade e responsabilidade.

 

Em última análise, a inteligência artificial nos convida a repensar o próprio conceito de “inteligência” e de “cuidado”. Mais do que desenvolver máquinas capazes de prever comportamentos ou sugerir diagnósticos, é essencial garantir que essas tecnologias estejam comprometidas com valores humanos. Só assim poderemos assegurar que o futuro da saúde mental seja, de fato, um espaço de acolhimento, ética e transformação e não apenas de eficiência técnica.


Christina Guedes

Psicanalista


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